Pedido Feito pelo nosso amigo Carlos Alberto Pereira, e atendido pelo MusicaDaMinhaGente
Alceu Valença
Alceu Valença, pernambucano de São Bento do Una, 37 anos, é um dos mais interessantes exemplos da música brasileira do momento. De origens nordestinas - fiel as raízes, é um dos poucos (ao lado de Elba Ramalho, Moraes Moreira, Fagner, naturalmente) que sobreviveu a um intenso processo de comercialização. Ao contrário, a cada novo disco se mostra mais profundo - e a prova está em seu último elepê ("Mágico", Barclay), lançado há poucas semanas. Voltando ao cinema - como ator e compositor em "Pátria Amada", o novo filme de Tizuk Yamazaki (em 1972), foi lançado por Sergio Ricardo no papel central de "A Noite do Espantalho"), Alceu tem muitos projetos: uma transposição das idéias de "Mágico" a um programa de tv e uma longa excursão nacional.
Gravado na Holanda - pelas próprias identificações existentes entre um passado histórico com o período do domínio daquele país em Pernambuco - "Mágico" é, entretanto, talvez o mais brasileiro dos discos de Alceu. Abre, por exemplo, com "Cambalhotas", um tema contagiante em que mistura o samba a melodia da embolada; "Dia Branco", regravada após 10 anos (estava no lp "Molhado de Suor") inspirada na figura "non sense" de uma bailarina que passou por Olinda, "uma manifestação viva de Ana de Amsterdam"; "Casaca de Couro" é um mourão, forma musical muito familiar aos cantadores do nordeste, agora revisitada pela contemporaneidade de Alceu. Como observa Darci Marcello, "Rajada de Vento" (parceria com Zé da Flauta) é um exemplo de acrobacia sonora - na qual o maracatu é ouvido como um forró. O lado 2 abre uma bonita e sentimental toada ("Soadão"), prosseguindo com "uma maneira de abrasileirar o rock", ou seja "o rock de repente": "Que grilo dá". Babuska Valença, primo de Alceu, é autor de um caboclinho (outro gênero nordestino) - "A Menina dos Meus Olhos". Reflexos da temporada em Hilversum, na Holanda, 30 de julho a 25 de agosto, para a gravação do disco, é "Moinhos" - parceria com João Fernando: um painel sonoro de Olina-Holanda. Otogramas que passam toda a movimentação dos moinhos de Holanda e coqueiros de Olinda. Finalmente, um "Maracatu Colonial". Ouvindo-se este "Mágico" Alceu Valença, lembramo-nos do que ocorreu com o grande Guimarães Rosa: quando no Exterior, ele conscientizou-se para a brasilidade de sua especialíssima literatura. Alceu foi a Holanda para fazer o mais brasileiro de seus discos. Ao contrário de tantos farsantes que buscam os estúdios no estrangeiro para disfarçar a incompetência e falta de talento.
No LP "Mágico", gravado em Amsterdã, inspirado nas ancestrais marcas da cidade de Olinda que foi colonizada por holandeses. Valença se utiliza de recursos múltiplos da tecnologia, revisitando o baião, o maracatu e caboclinho. O baterista e percussionista do grupo, Jurim Moreira, evita computadorizar o zabumba, triângulo e agogô e Zé da Flauta utilizando os fraseados melódicos das bandas de pínfanos abundantes em sertão nordestino compõm a trama sonora.
Direção artística: Mazzola
Produção executiva: Paulo Rafael
Gerência de produção: Wellington Luiz
Assistência artística: Eva Strauss
Assitência de produção: Christina Ponce de Leon e Laura
Engenheiro de gravação e mixagem: Emile Elsen
Assistência de gravação e mixagem: Vavá Furquim
Gravado no período de 30 de julho a 25 de agosto no Wisseloord Studios, Hilversum / Holanda
Programação de sintetizadores: Márcio Miranda
Corte: Ivan Lisnik
Capa: Carlos Horcades, J. C. Mello e Alceu Valença
Assistente: Mônica Soffiatti
Foto da capa: Carlos Horcades
Fotos do encarte: Patrícia Mesquita, Wellington Luiz, Vavá Furquim, Firmino, Clávio Valença e Mazola
Arte final: Bruno Esperanza
Download: Alceu Valença - Mágico - 1984
Um comentário:
Obrigado pela postagem desse disco e pelo resgate do texto!
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